O amigo de rio

Era uma daquelas tardes infernais e fazia 40º na sombra. Ela que nunca tinha calor, revezava um panfleto entre leitura e abano. Sentou-se e esperou o amigo.

Falaram besteiras, lembraram das coisas de sempre do tempo de escola. Contaram novamente quantos anos se conheciam e riram. Se suportavam há muito tempo, mais que a metade da existência deles.

Ali era a faculdade. Ela há dois anos e ele andava por aqueles corredores como um zumbi perdido, um vagante, ela odiava vê-lo com aquela cara de “oh, estou fazendo merda de novo” mas nas circunstâncias ficou aliviada de ver um rosto que como ela, nadava num rio de medos e tropeços.

543308_145739572217413_991001217_nIa ter vinho – gelado, ela suplicou na sua mente – pra esquecer os males do mundo. Ele ia e vinha, conversava com os amigos um pouco distante e ela só pensando na sua fome, um dia inteiro sem comer e sem vontade, de viver.

Sentou-se finalmente ao lado dela. E ela quis contar, mas pra ele era sempre um resumo da obra, contava o que mais doía, mas tentava calar a boca às vezes, pra não encher demais o amigo que preferia dividir pras horas boas, não pr'aquelas.

- Engraçado, parece uma coisa. Eu nunca erro! Eu tô sempre ali, sendo a certinha… e parece que quando eu dou pra errar, vira uma coisa imensa, uma merda grande mesmo e todo mundo aponta. Tu não, quando tu erra é: “ah… o menino errou!”

- É porque quando eu erro, é só mais um, sabe? tipo “ah, grandes coisa!” o pessoal já acostumou!

 

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Tra l'ombra e l'anima

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