vida do invisível

390654_300901263275630_184208478278243_954572_737434058_nÀs vezes eu a sinto por perto e começam a tocar em minha mente aquelas canções que eu escuto desde pequena, desde a época em que morava no sítio, BR364. Então passa, e eu continuo a fazer o que estava fazendo, ou então ela vem em terra com seu grito forte e seco.

Senta, faz as solicitações costumeiras e começa a falar. Cria-se envolta uma multidão de quatro ou cinco, enquanto conta dos feitiços da vida invisível. Fala de sua força e coragem em defender os seus e solicita a mesma força que a faz correr pelas matas sem mover uma folha.

A linguagem é de outro tempo, as feições são exageradas e os gestos saudosistas. Olha como se visse cada esquina da nossa alma e nos traz um arrepio de dentro.

“O que será que ela sabe?”

Ela sabe de tudo que você nunca contou pra ninguém, dos sentimentos mais guardados, das vergonhas e medos da “matéria”.

Deixa receitas, dá conselhos e um prazo, sempre há o prazo pras mudanças que devem ser feitas. Sempre há uma certa ameaça também, “façam este corpo feliz ou eu mesmo levo esta moça, e eu posso, porque ela é minha e eu hei de levar…”, diz sem hesitar batendo nos peitos com petulância e verdade. Se há alguém que pode fazer o que diz no cômodo, esse alguém é ela.

Depois de certificar-se que tudo vai caminhar conforme o mandado, se levanta e anuncia a partida. A cantiga volta, mas dessa vez vem de sua boca. Há quem cante junto, então o coral começa. Enquanto isso ela abraça quatro vezes ou mais cada integrante da casa, desejando o melhor. Nesse momento eu já vi lágrimas – minhas inclusive – por conta de verdades que deixam carne viva.

Ela vai embora da mesma forma que veio, instantaneamente com seu grito forte e seco. Deixa a sensação de proteção e carinho, sempre com seu cuidado disfarçado de rispidez.

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