Me disseram esses dias que eu ando deixando a vida passar. Na hora eu me imaginei num daqueles filmes que passam na Sessão da Tarde, com fotografia alaranjada de outono, sentada numa estação…olhando os trens passarem. Pois bem, aqui é o Acre, e de laranja só temos a nossa pele após o sol de meio dia.
Deixar a vida passar. Passar pra onde? E eu deixo? Nunca me achei desse tipo que deixa as coisas passarem, o que é meu fica, se passou é porque não me pertence mais. A minha vida não me pertence então? é de quem?
Bom, talvez eu esteja mesmo viajando, pintando meus cabelos de todas as cores e fugindo um tanto da realidade. E a realidade é um saco, vocês sabem, mas também nunca me achei o tipo que foge da realidade. É, talvez eu tenha me perdido um pouco de mim. Essas coisas de deixar a vida passar deixa a gente um pouco triste. Parece que a gente faz porque quer, como se de repente decidíssemos como numa passeata sentar na estação da Sessão da Tarde, mas ei… não é assim não, bicho.
Eu pensei durante esse tempo, que eu estava deixando a vida correr pra… bem, eu ia terminar essa frase de alguma forma, até que deletei o que nem tinha começado direito, porque acabei de ver que eu estou deixando mesmo. Só que eu pensei que deixar a vida correr seria bom, como se ela fosse e eu ficasse esperando um tanto, porque… eu já corri um tanto atrás da vida e na minha cabeça – não que um dia ela fosse correr atrás de mim mas – pelo menos um pouco de descanso, vai.
Aí de estação de trem, eu me imagino numa esteira de academia, mas dessa vez eu sou uma obesa, que nem consegue correr direito e a vida fica ali um pouco além da esteira. E pra minha agonia, a gorda aqui vai ter que ralar e subir nessa coisa elétrica, com passos de formiga e sem vontade. Pensando aqui em quando isso começou, esse negócio de deixar la vita passare, eu de supetão ia escrever que não sabia quando isso acontecia, mas eu sei sim, e acho que a gente sempre sabe. Aquele momento em que você diz pra si “agora dane-se” e (in)conscientemente começa a ligar o piloto automático, fazendo dos dias uma repetição de semanas de um mês vazio. Eu sei exatamente quando e porquê aconteceu, e porque eu continuei na estação e porque estou agora diante da esteira.
Não é de me orgulhar essa luz em saber das minhas motivações negativas de estar assim, porque orgulho seria se eu não estivesse contando aqui que ando parecendo um peso de porta, porém, acho que talvez ajude saber que uma hora a nossa mente tem uma iluminação e “pior” que isso, uma admissão e você pensa: “é, é isso mesmo…é essa merda toda aí e eu vou consertar, já que não tenho mais o que fazer” então a gente vai e melhora, ou não. Ou escreve que vai melhorar, pra melhorar . Ou escreve, pensa nisso tudo e melhora, só por já ter escrito que vai melhorar.
deixando a vida passar com estações de trem e esteiras de academia;
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