Lições de Meire

already_miss_you_wwwComo o céu de um domingo, as coisas ficaram claras.

A partir de agora parece tudo mais sério, sem brechas pra erros.

Faz pouco tempo (e na minha mente parece muito às vezes) que uma amiga de faculdade morreu.

Meire

Foi tão repentino e inesperado quanto o meu choro ao telefone, quando fui informada.

Nos primeiros dias de aula a cadeira vazia na sala era estranha pra todos, até que de uma forma gentil, uma das meninas ocupou a cadeira ao lado do Saimo (o mais próximo dela), onde ela sentava. Eu silenciosamente agradeci, mas antes de agradecer confesso que por um segundo me senti ofendida… era como se ali se confirmasse que ela não ia mais chegar atrasada, como costumava fazer.

Ausência

Ninguém antes dela, tinha morrido em minha vida. Eu sempre disse que não pretendia ir à velórios – e não fui – muito menos à enterros, mesmo sabendo ser algo necessário pra se entender o fim de uma vida… mas por Meire eu fui. Fui porque ela foi a primeira pessoa que me acolheu na Ufac.

Uma carioca simpática e gente fina. Torcedora doente do Flamengo e um carioquês digno, com chiado e gírias. Ah, e é claro a rixa com São Paulo.

O sentimento de morte, inédito pra mim, me dominou e causou dor. Algo inexplicável e desconhecido, levou às lágrimas e comoveu à todos que foram ao Morada da Paz naquele domingo, que não por acaso estava lindo.

Pra ela

Depois disso, me deu um estalo. E conversando com meus amigos depois disse o que a morte de Meire me fez perceber:

Agora é assim. As pessoas ao nosso redor vão casar, ter filhos. Alguns vão viajar e nunca mais voltar, outros vão se distanciar do caminho, morrer… E é de certa forma aterrorizante. Envelhecer e perder, ser perdido ou querer se perder.

Tudo pareceu real mas como se fosse um roteiro de alguma novela das sete, ou aquele filme que passava de duas em duas semanas na Sessão da Tarde, sendo mostrado como novo (e assistido por nós como inédito) com alguma história maluca que seguia sendo interessante, mesmo na décima vez.

Mesmo com a tristeza de tudo, me deu uma vontade enorme de viver. Aquele lance de “temos todo o tempo do mundo” de repente virou filosofia de botequim e eu queria sair por aí pulando de pára-quedas.

dripping_with_style_wwwDepois de da tristeza e do desespero pela vida, i caught myself. Vi que mais interessante que sair e viver tudo como se fosse pela primeira e última vez, eu deveria acordar: a vida sempre foi esse jogo e eu que não “sabia”.

As pessoas sempre casaram, engravidaram e morreram. Talvez não tanto quanto agora, mas sempre foi. E daqui a pouco pode ser eu que viaje, vire decoradora ou adote uma criança… É o processo natural da vida. As mudanças bruscas.

Meire me ajudou a perceber que é só a vida. Crescemos nos reproduzimos (em amor, em filhos, em arte ou memórias) e morremos. Infelizmente ela se foi e eu percebi, espero que nem todos precisem presenciar uma ausência pra acordar pra vida.

C’est la vie

Imagens:

Matei Apostolescu

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